A pintura de paisagem é relativamente recente na História da Arte. Até o século XVII a pintura de paisagem era o cenário, o pano de fundo onde os pintores desenvolviam seus temas.
Fazendo uma viagem no tempo, encontramos entre os 28 afrescos da Igreja São Francisco de Assis, em Assis na Itália, realizada magnificamente por Giotto di Bondoni (1276-1337) no século XII uma pintura de São Francisco de Assis pregando aos passarinhos. Com a introdução da paisagem na pintura, Giotto deu sua primeira contribuição á história da arte moderna. Usando a paisagem como fundo, conseguiu esquema geral da sua segunda contribuição a perspectiva tridimensional.
Com o advento do período renascentista, quando o homem passa a ser considerado a medida de todas as coisas, também a natureza é redescoberta. O período da Renascença tem seu berço na Itália e se expande pelo resto da Europa com maior ou menor esplendor. Na cidade de Florença, Leonardo da Vinci pinta sua obra-prima, a Gioconda, tendo como cenário uma paisagem, Sandro Botticelli pinta suas figuras olímpicas que se confundem com a paisagem.
Historiadores apontam o pintor Giorgione Castefranco como o primeiro a dar importância à paisagem no seu pequeno quadro, uma obra prima da pintura Italiana "Tempestade" que se encontra na Galeria Academia
Segundo alguns escritores da história da arte, há uma antecipação de "O Bacanal" de Ticiano, bem como a composição de Manet no meados do século XX, com sua obra-prima "Le déjeuner sur l'herbe", só que mais picante. Ticiano, amigo de Giorgione, também usou seu gênio criador na construção de paisagem em suas telas, levando alguns escritores a colocar o pintor Ticiano como o "verdadeiro" pintor de paisagem. Nos Paises Baixos, os irmãos Van Eyck também desenvolveram os seus trabalhos, colocando a natureza em destaque.
Segundo pesquisadores, é na Bélgica (Antuérpia) que Joachim Patinir em "San Jerônimo en un paisage rocosa" descreve, a partir do ponto de vista de um pássaro, uma visão panorâmica de um campo em seus mínimos detalhes. Essa tela bem como a "San Jerônimo" são encontradas respectivamente na National Gallery em Londres e no Museu do Prado onde o pintor, com seu estilo flamengo desseca a natureza em toda sua exuberância.
A História da arte nos revela que grandes pintores, cada um, em sua época, utilizaram em suas obras-primas a paisagem como palco para a criatividade. A escola de Barbizom (1830), com a descoberta da tinta em tubo, dá oportunidade aos artistas pintarem em contato com a natureza. O período pré-rafaelita (1848-1853), nasceu na Inglaterra levando o artista a procurar inspiração na natureza e nos mestres da renascença. Muito antes na Inglaterra, dois grandes artistas, Turner e Gainsborough, utilizaram como pano de fundo a natureza, às vezes como os verdadeiros protagonistas de suas obras. Essa procura de inspiração culmina, no período Impressionista, onde se tenta pintar o que não se repete, ou seja, "o instante", captando as mudanças da natureza frente à luz. O contato com a natureza "plein air" era de fundamental importância para os impressionistas. Os seus maiores expoentes, até a maturidade, pintaram paisagens. Vejamos: Monet com suas "Ninféias"; Cézanne com seu Monte Sainte Victoire; Vincent Van Gogh com seus Trigais e seus Ciprestes e Campos de Olivas, etc.
No Brasil com a chegada de Maurício de Nassau a pintura de paisagem aparece nos dois estados nordestinos: Pernambuco e Paraíba. De certa forma, a pintura de paisagem no Brasil também foi difundida pela Missão Francesa de 1816 (apesar do seu cunho neoclássico) com a chegada da família real (D. João VI) fugindo da Europa. A missão era bastante heterogênia, pois vinham pessoas de todas as profissões, e entre elas os pintores Jean Baptiste Debret e Nicolas Antoine Taunay. Este deixou registrado no Brasil, as mais lindas paisagens realísticas do século XIX. Outros pintores viajantes como Rugendas pintaram nossa paisagem. No século XX, muitos pintores enveredaram pela pintura de passagem como Milton da Costa, Pancetti, Sigaud, influenciados pelas poéticas das vanguardas e pelo neo-renascimento.
O Caminho da pintura de paisagem no estado da Paraíba começa a ser redescoberto pelo jovem pintor Rodrigues Lima.
Nascido no dia 19/03/74 no interior da pequena cidade de Itatuba, situada no micro região Piemonte da Borborema, rica em acidentes geográficos. Sua bacia hidrográfica é de grande importância, contando com alguns rios e riachos, tais como: “Quati”, “Surrão”, “Jacaré”, “Pé de Serra”, “Mala” e muitos açúdes e fontes, como a “Riculuta”, Ursa”, entre outras.
Como acidente importante geográfico, destaca-se a Serra Velha, fazendo limite com as cidades de Fagundes e Ingá. Serra Velha, onde José Iremar Rodrigues Gomes (Rodrigues Lima) nasceu para a vida e para a arte.
Filho do agricultor Adélio Gomes da Silva e da professora Irene Rodrigues Gomes, desde criança já demonstrava ter desenvoltura ao praticar seus desenhos, fazendo-se admirar pelas pessoas de sua convivência e principalmente por sua mãe Dona Irene.
O cenário dá força à sua imaginação precoce, fazendo com que ficasse horas a fio, sentado, sonhando de olhos abertos, olhando do alto aquela paisagem.
Do alto da serra, o olhar curioso de uma criança registrou para sempre em sua memória, os retratos de sua infância: os rios, plantas, frutas, árvores, os pássaros e seus céus.
O interesse pela pintura cresce e Iremar deixa a casa paterna, indo para a cidade de João Pessoa no estado da Paraíba, em busca de oportunidade e melhoria de vida. A princípio exerceu várias atividades, mas sempre procurando meios para realizar o sonho de viver de suas pinturas. Autodidata, pintava tudo, marinas, naturezas mortas, retratos, abstratos.
Era um “clinico geral” nas artes, tudo pela sobrevivência, mas o que mais o tocava era a paisagem, que o atraía, e todas as vezes que alguém lhe perguntava sobre o seu estilo, ele respondia: "sou um paisagista". Realizou várias exposições coletivas e individuais, procurando meios e caminhos para mostrar seu trabalho ao reconhecidos artistas da Paraíba.
Em João Pessoa, a principio consegue dar aula de pintura a um pequeno grupo de alunos heterogêneo: crianças, adolescentes e pessoas da terceira idade, conseguindo com muita força de vontade, passar no vestibular na Universidade Federal da Paraíba. O tempo é senhor da razão e através de novos conhecimentos e da busca do saber, consegue o jovem artista dar uma unidade a seu trabalho. Aquele panorama visto de cima da Serra Velha, explode em suas pinturas. Nas suas paisagens a natureza está impregnada de vida, de percepções íntimas vividas e sonhada. Iremar criança, sonhador, transforma-se
Nas suas telas tudo parece real, fruto de uma técnica invejável e que, segundo Drª. Madalena Zácara, doutora em História da Arte, é uma imagem comovente de um Brasil que poucos conhecem, estranho aos cartões postais cujos registros não são enciclopédicos, mas existenciais.
Hoje Rodrigues Lima não é mais um artista periférico, é um dos grandes nomes das artes plásticas na Paraíba como muito bem mostrou em sua ultima exposição "DO ALTO DA SERRA VELHA", realizado na conceituada galeria Gamela
Um artista, com poética é uma raridade nos nossos dias, mas o jovem artista Rodrigues Lima com sua impressão digital única não é mais uma promessa, mas um grande talento das Artes Plásticas.
Irismar Fernandes de Andrade.